domingo, 30 de outubro de 2011

"A Música Latino-Americana e as Escolas Nacionalistas do Séc.XX

            A música latino-americana do século XX traz uma grande influência das Escolas Nacionalistas já que busca a afirmação das culturas subjugadas pelos colonizadores. Se as antigas civilizações latino-americanas como os Maias, os Incas, os Astecas, os Tupi-Guaranis dentre outros não tivessem sido massacrados, e suas culturas sobrepujadas pelos europeus, a música latino-americana não teria sido tão dependente da cultura musical européia. Ela teria, provavelmente, sua própria característica herdada dos povos que habitavam esse continente.
            A identidade musical perdida foi aos poucos sendo recuperada através das Escolas Nacionalistas que, apesar de terem suas raízes no Velho Continente, possibilitou que novos compositores das novas terras inserissem motivos folclóricos em suas composições e, na busca por novas formas e sonoridades, fizessem uso de novos timbres e diversificassem a utilização dos instrumentos através de novas técnicas de execução, de composição e de notação musical.
            As mudanças socioeconômicas que ocorreram no começo do século impulsionaram a transformação das características musicais herdadas do século XIX e fizeram despontar a politonalidade, a atonalidade, o dodecafonismo, a música eletrônica, a música aleatória, e outras tantas formas musicais que abrangeram as Escolas Nacionalistas criando o gérmen da identidade. Assim, passou-se a reconhecer as músicas Latino-americanas por suas características miscigenações musicais, onde a tradição européia, a cultura autóctone, e principalmente a cultura africana se fundem na produção de uma música com ingredientes que a tornam reconhecível e identificável sem maiores dificuldades.
            O confronto cultural produzido no pós-descobrimento levou à produção musical imitativa dos modelos estéticos e aceitáveis do colonizador. A música boa deveria seguir os padrões impostos por aqueles que se achavam donos da verdade absoluta. A música produzida pelos autóctones não se encaixava no padrão de beleza e concepção aceitáveis e, portanto, não merecia ser preservada.
            A identidade outrora perdida com a colonização não pode ser recuperada, mas, a nova música que surgiu com a aglomeração de tantas influências, certamente da à música latino-americana, características ímpares de representação cultural de seu povo. Assim, compositores como os mexicanos Silvestre Revueltas e Pablo Moncayo, o argentino Alberto Ginastera e o brasileiro Heitor Villa-Lobos traduziram, através de suas composições, as aspirações das culturas de seus respectivos países, de se verem representadas por uma música que lhes fosse verdadeiramente íntima.

Referências:
http://www.metropolitana.pt/%C3%80-Descoberta-da-Am%C3%A9rica-974.aspx
Material Didático da Disciplina História da Música e da Educação Musical 2 (Professora Maristella Pinheiro Cavini – UFSCar)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A APRENDIZAGEM


            Partindo do princípio de que a instituição escolar tem por finalidade o ensino da aprendizagem, torna-se um contra censo obrigá-la a transmitir unicamente conteúdos pré- estabelecidos. É da natureza humana, o fato de poder derivar relações tendo como base uma única informação. Assim é que, quando ensinamos para uma criança acima de quatro anos, que duas bolas correspondem ao numeral dois, ela passa imediatamente a derivar que o numeral dois corresponde a duas bolas numa relação de reflexividade, e assim sucessivamente, é possível ensinar a aprender através de conceitos básicos.
            Lançar mãos de ferramentas que auxiliem o aprender, alarga os horizontes na tarefa do educar ao mesmo tempo em que fortifica as bases que fundamentam a aprendizagem. Nessa abordagem onde as novas ferramentas têm papel preponderante, a música se destaca por trabalhar a sensibilidade que não se restringe a partes determinadas do corpo, mas por abrangê-lo como num todo acelerando ou diminuindo a intensidade de reação de acordo com as propostas musicais apresentadas.
            Mesmo na reformulação ou na correção de erros no processo de aprendizagem, a música pode trabalhar a concentração e auto-estima, de maneira a transformar a punição para que possa ser aceita como parte do processo de erros e acertos que caracterizam o ato de aprender. Não há imunidade ao erro e, dessa forma, é preciso se conscientizar de que suas ocorrências são perfeitamente compreensíveis tanto para o aluno quanto para o professor que, na persistência do erro, apesar do reforço em sua correção, poderá rever seu projeto pedagógico afim de  dirimir as deficiências de aprendizagem que se apresentarem.

Ossimar

A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NO AUDIOVISUAL


A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO EM UMA OBRA AUDIOVISUAL

            Já se passaram aproximadamente onze meses de uma cena, levada ao ar pela novela Viver a Vida da rede Globo, e que protagonizou uma caracterização da subserviência negra aos modelos sociais que, de acordo com a constituição brasileira, não deveriam mais serem registradas em nossa sociedade. A cena a qual me  refiro gerou polêmica, abriu uma nova discussão a respeito do papel delegado aos negros já que a Helena, interpretada pela atriz Thaís Araújo, não fazia parte da fatia menos favorecida financeiramente e, portanto, não caberia na figura estereotipada da negra serviçal.
            Por outro lado, a atriz que já havia interpretado o papel de Xica da Silva anteriormente, se rende ao dramalhão barato desprezando sua trajetória anterior de mulher identificada culturalmente e de espelho para outras mulheres negras.
            A cena é de tamanha humilhação que levantou debates inflamados além de  gerar o texto reflexivo “Em cena, uma negra de joelhos” escrito por Gleiciele Oliveira e Shagaly Araújo e publicado no site do Observatório da Imprensa e pode ser revista em: http://www.youtube.com/watch?v=C6W1ZszyKEM&feature=related
            As questões levantadas pelas colunistas dizem respeito às várias facetas da personagem que demonstram uma miríade de estereótipos do negro em meio à sociedade de brancos. Seu amado é branco, seu sucesso como modelo é ameaçado por um aborto praticado antes da fama, sente-se responsável por um acidente que tornou uma branca paraplégica, é arrimo econômico de sua família, além da fatídica cena de humilhação.
            Todas essas características empregadas à personagem perfazem a típica relação entre negros e brancos na sociedade brasileira onde, mesmo tendo galgado um patamar mais elevado na escala da sociedade bem sucedida, o negro, por sua pele, sofre a discriminação velada de todos os setores dessa mesma sociedade. Ainda de acordo com o texto, o que deveria ser uma ampliação e mesmo valorização dos elementos negros como atores capazes de representar papéis  protagonistas de telenovelas levadas ao ar em horários nobres, o que se viu foi, mais uma vez, o recrudescimento do teor igualitário falsamente pregado entre as diversas raciais e étnicas.
            O que se lamenta é que, novamente ficamos perplexos e pasmos ante ao suplício moral imposto à personagem e que nos remete àquele aplicado ao negro Fulgêncio de Escrava Isaura e que o levou à morte. Pode ser que a própria atriz Thaís Araújo tenha morrido como representante dos mais de 40% da população negra que poderiam tê-la modelo fiel de possibilidade.


Referências:
-Material didático da disciplina Tópicos em Educação, Cultura e Sociedade 2 (Professor Arthur Autran F. de Sá Neto) da Universidade Federal de São Carlos


O NEGRO NA ARTE MODERNA BRASILEIRA


A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA ARTE MODERNA BRASILEIRA

            A representação negra no século XX pode ser compreendida através de duas formas distintas de observação. A externa que compreende os produtores culturais brancos engajados nos ideais abolicionistas como, por exemplo, Castro Alves, e a interna que é fruto de artistas negros em seus exercícios de busca de identidade e aglutinação de seus pares.
            Dentre os artistas internos há de ressaltar o trabalho de Luiz Silva, pseudônimo “Cuti”, nascido em 1951 na cidade de Ourinhos/SP, formado em Letras pela USP e em Literatura Brasileira pela UNICAMP. Cuti foi um dos fundadores e mantenedores da série Cadernos Negros, de 1978 a 1993, e do grupo literário Quilombhoje, de 1980 a 1994 e, segundo Abdias do Nascimento, os Cadernos Negros são expressão de excelência do Movimento Negro (A representação do negro nas poesias de Castro Aves e de [ Luiz Silva] Cuti: de objeto a sujeito – Oliveira, H.S.Luiz, - Belo Horizonte, 2007)
            Nessa dissertação de mestrado, Luiz Oliveira traz uma interessante reflexão sobre as diferentes representações dos negros nas poesias brancas (Castro Alves) e nas poesias negras (Luiz Silva – “Cuti”).

Referência: A representação do negro nas poesias de Castro Alves e de [Luiz Silva]
                   Cuti: de objeto  sujeito


Ossimar

ATABAQUES NZINGA


            O despertar de uma rainha negra, descendente de escravos que, através do tambor e do jogo de búzios vai descobrindo sua identidade é o fio condutor do filme Atabaques Nzinga. Já na abertura das tomadas, o músico Paulo Moura executa um tema triste e lamentoso em seu clarinete por vielas da cidade de Salvador na Bahia.
            O plano se desloca para uma tribo africana que entoa um canto que, aparentemente, demarca uma reunião tribal. A cena mostra que a reunião trata de um assunto sério e, os homens reunidos, ouvem o ancião relatar sobre a caça aos escravos e danças representativas são efetuadas por crianças e adultos. Ouve-se o som de um berimbau. Trata-se, porém, de um sonho da protagonista já que o corte da cena focaliza-a dormindo enquanto o navio negreiro atravessa os mares, carregado de escravos.
            Nesse ponto a trilha sonora vem para o primeiro plano e o mestre Naná Vasconcelos aparece efetuando cantos guturais apoiados pelo som de um gongo, berimbaus, chocalhos e percussões variadas, enquanto que os planos de tomadas se alternam entre o mar e o músico numa representação de toda a angústia da travessia até que a terra seja vista.
            A África nos gerou...e oBrasil nos mal criou.” Com essa frase entra em cena aquele que, provavelmente, seja a avó da protagonista e que torna-se a responsável por conduzir, através do jogo de búzios, a protagonista em seu caminho pela busca de suas raízes e de respostas para as suas inquietações. As feridas abertas pelas agruras da escravidão ainda insistem em provocar a dor da lembrança e Ana, a protagonista, tenta se livrar desse fardo pesado. “...ainda assim não passará, meu pai oxalá, essa memória herdada do fundo do navio...” ela segue tateando, sob a orientação do búzios, na busca de seu verdadeiro destino. Ao fundo, Naná Vasconcelos continua  sua invocação gutural.
            “...Muitos de nós foram calados pelos senhores da terra...mas não conseguiram silenciar o tambor... e é o tambor que até nos traz o contato a força, com os nossos ancestrais...” torna a se manifestar a provável avó, numa clara alusão à importância que o referido instrumento desempenha na cultura musical africana. Eleva-se o som de tambores e Ana os declara amigos que sempre respondem ao seu chamado.
            Um terreiro se abre na cena seguinte onde atabaques pontuam uma dança ritmada. Uma janela se abre e Ana, ao som vocal que beira o canto gregoriano, continua seu questionamento de identidade num plano diante de um espelho que, será visto novamente ao final do filme. As cenas seguintes são de manifestações de cultos religiosos. Os pontos de Umbanda ecoam por todas essas cenas com a força da mensagem tribal de seus toques e os rituais se desenrolam para fortalecerem as identidades culturais e as tradições dos povos africanos. Os atabaques ditam os ritmos enquanto que as vozes desfiam as ladainhas.
            Ana descobre sua nobreza através dos orixás e segue-se uma paginação de todos os momentos cruciais dos povos que foram subjugados e oprimidos. O berimbau soa alto em seu toque característico circundado por outros sons enquanto Ana derrama as lágrimas de outros escravos. “Nossa avó África, que tanto deu para esse país, é agora nossa querida antepassada”.  Não há mais lugar para lamentos.
            “Eu vim até aqui por que os tambores me chamaram” diz Ana à sua mãe (avó) e, um canto de pergunta e resposta é apresentado no que aparenta ser uma igreja católica, demonstrando todo o sincretismo religioso e a miscigenação própria do povo brasileiro. Ana está em seus domínios enquanto o cantador desfia seu cordel, outra vertente musical que também sofreu influência dos cantos corais africanos.
            Desse momento em diante, as influências da mãe África passam a ser pontuadas em todas as manifestações populares abrangendo os grupos de tambores baianos, os grupos de afoxés, os de congada, de côco, de maracatu, jongo, bumba-meu-boi, capoeira e, em todos eles, representados pela rainha Ana Nzinga, até cair nos braços de São Sebastião do Rio de Janeiro onde, tem-se na figura de Alaíde Costa, o elo entre a Bahia e o samba carioca.
            Outros personagens desfilam pelos arcos da Lapa e o samba torna-se produto evidente da influência africana nessa terra onde o tambor se desdobra em surdos, tamborins, pandeiros, cuícas e vai se misturando às flautas, caixas de fósforo, violões, clarinetas, capoeiras e seus toques, enfim, numa comunhão de timbres e cadências diversas, mas que, ao mesmo tempo, harmoniza todas as ramificações sob batuta solene do tambor. O samba pede passagem e desfila obras primas por alguns momentos.
            É nesse cenário que a única cena destoante de todo o filme se desenrola. Uma tentativa de estupro sofrida por Ana para demonstrar a proteção de seus orixás produz uma sensação de lugar comum que a força de todo o enredo não comporta.
            Merece destaque especial a trilha sonora do filme que nos remete a todo instante às origens africanas da música brasileira. Sob os cuidados do percussionista Naná Vasconcelos, o tecido sonoro mostra-se de extrema fidelidade com o tema central da narrativa e abrange de maneira interessante todas os caminhos musicais brasileiros dos quais pouquíssimos conseguiram absterem-se do som das vozes e dos tambores trazidos pelos africanos que vieram para o Brasil e que ajudaram a edificar o país que temos hoje. Ainda não é o ideal de igualdade, mas já muito se conquistou.

Referências:
- Atabaques Nzinga, CAVALCANTI, B., Otávio
(http://www.youtube.com/watch?v=glIplhm-kPs) – Acessado em 18 de Outubro de 2011
           
Filme de: Octávio Bezerra
Direção de Fotografia: Hélio Silva
Argumento, Roteiro e Direção: Octávio Bezerra Cavalcanti
Direção Musical: Naná Vasconcelos
Edição de Imagem e Som: Sueli Nascimento
Produção: Rose La Creta
Elenco: Taís Araújo, Lea Garcia, Paulão, Paschoal Vilaboim
Apoio: Ancine, BNDES, Prefeitura municipal do Rio de Janeiro, Olhar Feminino, Petrobrás.