É natural que nos
sintamos excluídos quando uma roda qualquer é formada e não inseridos nela. O
sentimento de rejeição de determinado nicho comunitário provoca, geralmente,
uma auto-reflexão e um questionamento interno que nem sem sempre traduz a
realidade. Quando inserido, o prazer da aceitação alheia se traduz em uma
espécie de acordo tácito onde o equilíbrio da roda se sobrepõe aos anseios
individuais pois, se assim não for, o elo podre da corrente pode se romper.
Aliás, esse é o fundamento
primordial da formação circular quando se desenvolve trabalhos em grupo. A roda
possibilita uma interação que dificilmente pode ser alcançada em outras
formações geométricas. Nelas, os participantes podem ser expostos a uma
confrontação e, até mesmo, servirem de espelhos para variados procedimentos de
seus pares.
Nesse procedimento de se alinhar
circularmente, o ser humano tem buscado a introspecção em busca de suas raízes,
sensações e verdades. As danças circulares desenvolvidas pelo coreógrafo alemão
Bernhard
Wosien resgatam os valores humanos folclóricos implícitos nessa
referida arte da expressão corporal. O resgate cultural que nelas está subentendido
proporciona uma melhor identificação cultural e, por extensão, promove o
reconhecimento do indivíduo como sendo parte integrante desse círculo social.
As relações entre as culturas de
diferentes povos podem, de maneira simples, serem desenvolvidas e inter
cambiadas em uma roda de prosas, conversas, histórias diversas onde o
preponderante é a diversidade, o diferente. Organizar e participar de uma roda,
seja ela de que natureza for, pressupõe a disponibilidade para a diferença,
para o novo.
É, por essas razões, que as danças e
brincadeiras de roda, que trazem consigo as tradições folclóricas musicais, devem
permanecer constantes na formação básica do indivíduo. Toda criança gosta de música, poesia, brinquedo (Lydia Hortélio (in
BRITO, 2003)).É
através dessas atividades que os espaços individuais são delimitados e, o
respeito ao espaço alheio é desenvolvido. O fato é que, na contramão dessa
constatação, temos desvalorizado ao extremo o convívio circular em favor do
enaltecimento do eu, do individualismo, do egoísmo puro. Estamos
deliberadamente abandonando a convivência comunitária simbolizada pela roda, em
favor da unidade simbolizada pelo ponto, aquele mesmo que se perde na imensidão
que são as relações humanas.
Ossimar Heleno
Batista