terça-feira, 25 de outubro de 2011

A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NO AUDIOVISUAL


A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO EM UMA OBRA AUDIOVISUAL

            Já se passaram aproximadamente onze meses de uma cena, levada ao ar pela novela Viver a Vida da rede Globo, e que protagonizou uma caracterização da subserviência negra aos modelos sociais que, de acordo com a constituição brasileira, não deveriam mais serem registradas em nossa sociedade. A cena a qual me  refiro gerou polêmica, abriu uma nova discussão a respeito do papel delegado aos negros já que a Helena, interpretada pela atriz Thaís Araújo, não fazia parte da fatia menos favorecida financeiramente e, portanto, não caberia na figura estereotipada da negra serviçal.
            Por outro lado, a atriz que já havia interpretado o papel de Xica da Silva anteriormente, se rende ao dramalhão barato desprezando sua trajetória anterior de mulher identificada culturalmente e de espelho para outras mulheres negras.
            A cena é de tamanha humilhação que levantou debates inflamados além de  gerar o texto reflexivo “Em cena, uma negra de joelhos” escrito por Gleiciele Oliveira e Shagaly Araújo e publicado no site do Observatório da Imprensa e pode ser revista em: http://www.youtube.com/watch?v=C6W1ZszyKEM&feature=related
            As questões levantadas pelas colunistas dizem respeito às várias facetas da personagem que demonstram uma miríade de estereótipos do negro em meio à sociedade de brancos. Seu amado é branco, seu sucesso como modelo é ameaçado por um aborto praticado antes da fama, sente-se responsável por um acidente que tornou uma branca paraplégica, é arrimo econômico de sua família, além da fatídica cena de humilhação.
            Todas essas características empregadas à personagem perfazem a típica relação entre negros e brancos na sociedade brasileira onde, mesmo tendo galgado um patamar mais elevado na escala da sociedade bem sucedida, o negro, por sua pele, sofre a discriminação velada de todos os setores dessa mesma sociedade. Ainda de acordo com o texto, o que deveria ser uma ampliação e mesmo valorização dos elementos negros como atores capazes de representar papéis  protagonistas de telenovelas levadas ao ar em horários nobres, o que se viu foi, mais uma vez, o recrudescimento do teor igualitário falsamente pregado entre as diversas raciais e étnicas.
            O que se lamenta é que, novamente ficamos perplexos e pasmos ante ao suplício moral imposto à personagem e que nos remete àquele aplicado ao negro Fulgêncio de Escrava Isaura e que o levou à morte. Pode ser que a própria atriz Thaís Araújo tenha morrido como representante dos mais de 40% da população negra que poderiam tê-la modelo fiel de possibilidade.


Referências:
-Material didático da disciplina Tópicos em Educação, Cultura e Sociedade 2 (Professor Arthur Autran F. de Sá Neto) da Universidade Federal de São Carlos


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